Artigo:
A formação do leitor (ELIENE SOUZA OLIVEIRA)
A escola é um espaço de transformação social e, por isso, precisa desempenhar o seu papel de formar indivíduos aptos para serem inseridos na sociedade. Para tanto, o educador deve ser investigativo e reflexivo, para assim ser capaz de formar leitores críticos, reflexivos, investigativos e conscientes do seu papel na sociedade.
Existem vários fatores que podem contribuir para que esta formação aconteça tais como: a família, o aluno, o professor, a direção escolar, e a comunidade escolar. Diante disso, fica evidente, que precisamos compreender a escola numa dimensão para além do imediatismo, da instrumentalidade porque no paradigma da complexidade segundo ASSMANN (1998), “a escola é compreendida como uma organização que aprende”. Então, constitui-se tarefa da educação lidar não só com os instrumentos essenciais de aprendizagem, que envolvem leitura, escrita, cálculo, mas principalmente, com os conteúdos educativos fundamentais tais como: valores, atitudes, competências e habilidades. Dessa forma, alia-se o desenvolvimento de competências técnicas-científicas e o conhecimento de si mesmo elevando o pensamento crítico e o espírito para a busca de unidade.
Portanto, faz-se necessário que a educação atinja a vida das pessoas e da coletividade em todos os âmbitos, visando à expansão dos horizontes pessoais, o desenvolvimento psicossocial do sujeito, além da observação das dimensões econômicas e o fortalecimento de uma visão mais participativa, crítica e reflexiva dos grupos nas decisões dos assuntos que lhes dizem respeito. Sendo assim, a forma como a escola é dirigida é de fundamental importância neste processo, pois, uma boa escola começa com um bom gestor.
A direção da escola, além de ser uma das funções do processo organizacional, é um imperativo social e pedagógico. O significado do termo direção, tratando-se de escola, difere de outros processos de direção. Ele vai além daquele de mobilização das pessoas para a realização eficaz das atividades, pois implica intencionalidade, definição de rumo, uma tomada de posição frente a objetivos sociais e políticos da escola, numa sociedade concreta. A escola, ao cumprir sua função social de mediação, influi significativamente na formação da personalidade humana e, por essa razão, não é possível estruturá-la sem levar em consideração objetivos políticos e pedagógicos.
No âmbito educacional, o conceito de gestão está associado ao fortalecimento da democratização do processo pedagógico e representa não apenas novas ideias, mas um novo paradigma que estabelece uma orientação transformadora na relação da escola. É desejável, entretanto, que os educadores resgatem pessoalidades nas práticas escolares em função da compreensão e consciência da historicidade da ação educativa. Eles podem contribuir para que o fazer burocrático se transforme numa proposta de ação mais integradora e coordenadora do trabalho coletivo, participativo, sem imposições, pois a mudança não ocorre de fora para dentro. Isto se dá quando os elementos da comunidade escolar participam conscientemente das decisões sobre a orientação de seu trabalho se comprometendo com os resultados educacionais. O gestor pode tornar o processo de mudanças significativas para sua equipe assegurar a participação das pessoas, proporcionando um ambiente em que a criatividade possa florescer.
Diante disso, devemos levar em consideração que a própria escola deve atender às exigências do contexto no qual está inserida.
O desenvolvimento das novas tecnologias, nas últimas décadas vem afetando todos os setores da atividade humana, proporcionando maior agilidade de comunicação, reduzindo esforços nas rotinas diárias e ampliando as possibilidades de acesso a informação em todo mundo.
A instituição escolar de maneira geral tem realizado um trabalho com texto que prepara o educando para ler escrever narrações, dissertações, descrições e cartas. Ele é treinado para reproduzir textos modelares, com regras fixas pré-estabelecidas e numa realidade escolar distante da realidade dele. A exploração de textos diversificados é uma prática pedagógica que proporciona o desenvolvimento da expressividade, do uso funcional da linguagem, da leitura e da reflexão sobre o mundo.
Porém, partindo do pressuposto de que é preciso formar leitor investigativo e reflexivo, uma proposta do ensino de língua deve valorizar o uso da língua em diferentes situações sociais, com sua diversidade de funções e sua variedade de estilos e modos de falar uma vez que:
Educar é criar cenários, cenas e situações em que, entre elas e eles, pessoas, comunidades aprendentes de pessoas, símbolos sociais e significativos da vida e do destino possam ser criados, recriados, negociados e transformados. Aprender é participar de vivências culturais em que ao participar de tais eventos fundadores, cada um de nós se reinventa a si mesmo. E realiza isto através de intenções (muito mais do que de “estocagem”) de entre efeitos sensações, sentidos e saberes, algo mais e mais desafiadoramente denso e profundo destes mesmos atributos. (BRANDÃO, 2002, p. 26).
Para estar de acordo com esta concepção, é importante que o trabalho em sala de aula se organize em torno do uso da língua e que privilegie a reflexão dos alunos sobre as diferentes possibilidades de emprego da mesma. Visto que o sujeito que utiliza a língua não é um ser passivo, mas alguém que interfere na constituição do significado e do ato comunicativo. Portanto, há uma relação intrínseca entre a linguística e o social que precisa ser considerada no estudo da língua.
Tomando como base o ensino e aprendizagem da leitura crítica, bem como a formação do leitor competente, o livro didático não pode ausentar-se desse processo, principalmente pelo fato de ser, em alguns casos, o único material a esse respeito que o aluno dispõe em casa e até mesmo na escola. Cabe, então, ao professor, utilizar o mais significativamente possível os textos abordados por este tipo de livro, considerando o que o aluno sabe e o que pode aprender com a contribuição desse documento. O desenvolvimento de ações que viabilizem a formação do leitor crítico é fundamental, principalmente entre os jovens, pelo fato de poderem estar adquirindo mais segurança na leitura e também tomando gosto pelo ato de ler. Para tanto, é fundamental que o professor sirva de modelo, mostrando-se leitor ativo e compreensivo, para que possa mediar o processo de interação entre seus alunos e o universo letrado que envolve a leitura.
Podemos afirmar que formar um leitor crítico não é tarefa fácil, entretanto fica claro que se trata de algo extremamente significativo para o aluno. As mudanças no currículo do ensino médio contemplam disciplinas que abordam conteúdos, que dão significado e reflexos na sua vida cotidiana. Assim, a leitura contribui não somente para a formação intelectual do indivíduo, mas para a formação moral e cultural, sendo um conhecimento de base para todos os outros que pode vir a adquirir ao longo da vida, além de servir também de entretenimento e prazer.
Na verdade, o que se almeja alcançar do trabalho com a leitura crítica no ensino é um leitor que seja capaz de ultrapassar os limites pontuais de um texto e incorporá-lo reflexivamente no seu universo de conhecimento de forma a levá-lo a melhor compreender seu mundo e seu semelhante. Partindo do ponto de vista de que “o verbo ler não suporta imperativo” (PENNAC, 1993, p. 13), a leitura não deve ser encarada nem pelo professor nem pelo aluno como uma obrigação, um dever, e sim como uma atividade prazerosa. Para tanto, o professor deve demonstrar paixão pela mesma e apresentá-la como fundamental para a formação intelectual dos educandos.
Para isso, faz-se necessário superar as formas conservadoras de organização e gestão adotando formas alternativas, criativas de modo que aos objetivos sociais e políticos da escola correspondam estratégias compatíveis de práticas pedagógicas que façam com que os educandos vivenciem igualdade, diversidade, consciência e dignidade no cotidiano através da participação na elaboração e execução do Projeto Político Pedagógico, do Colegiado Escolar, das tarefas da escola, da avaliação do trabalho docente e escolar. Dessa forma, o ser humano capacita-se para saber decidir quando deverá transgredir ou não nas situações corriqueiras. FREIRE 1996, pg. 36-37.
Nesse sentido, mulheres e homens, seres histórico-sociais tornam-se capazes de comparar, de valorizar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso se fazem éticos.
Então é importante que cada indivíduo da comunidade escolar atue como investigador para assim, ser capaz de refletir sobre a prática educativa emancipatória e juntos enfrentem o desafio radical de promover uma educação intercultural e crítica na nossa sociedade em que estamos vivendo processos multidimensionários, profundos e contraditórios.
Ler é viajar para mundos desconhecidos, descobrir o que antes era mistério, fantasiar, deixar a imaginação aflorar dentro do texto. Enquanto lemos, vivemos uma experiência valiosa. A mente humana, que possui funções importantes como a memória, raciocínio, e a atenção, permitem que possamos experienciar tudo que o simples prazer de ler proporciona. Quando lemos, as possibilidades de ampliar os nossos horizontes se expandem. Podemos não só compreender melhor o nosso meio, como também transformá-lo, abrindo novos caminhos, despertando todas as nossas faculdades mentais que ainda estejam latentes, pelo fato de estarmos desvelando algo que era, por nós, desconhecido.
É pertinente considerar que aventurar-se no mundo da leitura é também desenvolver uma prática de leitura que desperte e cultive o desejo de ler, ou seja, uma prática pedagógica eficiente que dê suporte ao aluno para realizar o esforço intelectual de ler não só textos simples, mas também aqueles nos quais precisará utilizar e pôr a prova todas as suas estratégias de leitura. Para ECO (2000, p. 31) “um texto é um universo aberto onde o intérprete pode descobrir uma infinidade de conexões”. Ou seja, um texto é um conjunto de significados amplos e abertos e permite ao leitor mergulhar nele e relacioná-lo com outras diferentes situações com as quais tem contato no seu dia a dia e/ou com conteúdo das mais diversas áreas de conhecimento, proporcionando a quem lê preencher as lacunas deixadas pelo escritor para que a este mesmo texto, sejam acrescidos, novas idéias e argumentos, com o intuito de que a cada leitura, sejam criadas expectativas novas em relação ao seu conteúdo.
Portanto, o processo ativo globais de leitura, permite ao indivíduo alcançar a competência de leitor eficiente como diz ORLANDI (.....):“ o bom leitor é aquele que sabe que há outras leituras, que o sentido pode ser outro”.
Diante disso, fica claro, quem lê aventura-se pela linguagem, pois, constrói sua própria ciência uma vez que a leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado.
Por esta razão é preciso ler, principalmente, ler bem, pois, quem não sabe ler bem apenas memorizará elementos de um todo que não se atingiu, não saberá resumir, não saberá tomar apontamentos, não se aventurará pelas diferentes leituras sentindo as mais variadas emoções que só a leitura permite ao bom leitor, como também não saberá estudar.
As atividades leitoras disseminadas fora dos espaços escolares estão tendo como sustentáculo, o prazer de ler, considerado como força impulsora, capaz de manter acesa a chama da leitura. Assim, a leitura de várias naturezas, realizadas de modo espontâneo e prazeroso mesmo que dispersadas por entre tantos meandros, reforça mais sua necessidade e importância, já que é produzida sempre num espaço social de uma interlocução real e virtual. MARTINS (1994, p. 81) realça essa idéia quando afirma que “mesmo querendo forçar sua natureza com posturas extremistas, o homem lê como em geral vive, num processo permanente de interação entre sensações, emoções e pensamentos”.
Por esta razão, apesar de todo o avanço tecnológico observado na área de comunicação, principalmente audiovisuais, nos últimos tempos, ainda é, fundamentalmente, através da leitura que se realiza o processo de transmissão, aquisição do conhecimento. Daí a importância capital que se atribui ao ato de ler, enquanto habilidade indispensável na vida do ser humano.
Ao aprofundar sobre a importância da leitura percebe-se que aventurar-se pelo mundo dela e aprender a ler não são tarefas tão simples, pois exige uma postura crítica, sistemática, uma disciplina intelectual por parte do leitor, e esses requisitos básicos só podem ser adquiridos através da prática e da experiência.
Observa-se que muitas pessoas na maioria das vezes, fazem uma leitura superficial, que é aquela realizada apenas para buscar informações específicas, entretanto, cada indivíduo precisa alcançar diferentes níveis de leitura, pois, a realidade da leitura é extremamente complexa e variada, visto que o diálogo que se estabelece entre emissor e receptor não se dá sempre da mesma forma. As leituras têm origem e objetivos bastantes diferenciados e, sendo assim, há leituras de pura informação, leitura de passatempo, leituras literárias e, leituras acadêmicas.
Sabe-se que a leitura pode ser feita com diferentes finalidades. E é através dela que um bom leitor pode adquirir conhecimentos suficientes que o levará ao sucesso. Contudo, para chegar ao sucesso é preciso conhecer algumas técnicas de leitura e colocá-las em práticas a partir de uma finalidade principal como:
Determinar inicialmente a principal finalidade da leitura, mantendo as unidades de pensamento, avaliando o que se lê;
Escolher os textos, livros, apostilas etc. tendo em vista a finalidade principal da leitura;
Ler com objetivo determinado, preocupando-se com o conhecimento de todas as palavras;
Interromper a leitura quer periódica quer definitivamente se perceber que as informações não são as que esperavam ou não são mais importantes;
Discutir frequentemente o que foi lido com colegas, professores e outras pessoas.
Observa-se que todas essas finalidades são importantes porque a leitura não é simplesmente o ato de ler, mas é sim, uma questão de hábito ou aprendizagem, que pressupõe uma teoria que fundamenta o método, uma estratégia a ser empregada, um conjunto de técnicas e treinamento.
Diante disso, não há, portanto, soluções miraculosas para fazer uma boa leitura, é preciso que o interessado pela leitura conheça os métodos, verifique sua real contribuição e através do treinamento adquira hábitos de leitura tecnicamente mais adequados.
De acordo com as discussões sobre leitura, percebe-se que para uma pessoa entrar na aventura da linguagem é preciso que ela goste de ler, que leia muito e principalmente envolva-se com o que ler.
Sendo assim, as manifestações lingüísticas especificadas sobre a forma de escrita possibilitam o armazenamento e a transmissão de conhecimentos. Ao adquirir o saber da leitura o homem se torna capaz de decifrar e decodificar os códigos escritos e, conseqüentemente, construir seu próprio pensamento. Adquire-se esse saber na escola, porém, o ato de ler acompanha o indivíduo ao longo da sua existência na escola e fora dela.
Sobre esse aspecto, LAJOLO (2004, p. 7) esclarece:
Lê-se para entender o mundo, para viver melhor. Em nossa cultura, quanto mais abrangente a concepção de mundo e de vida, mais intensamente se lê, numa espiral quase sem fim, que pode e deve começar na escola, mas não pode (nem costuma) encerrar-se nela.
Para tanto, os profissionais da educação, principalmente os que estão ligados diretamente ao processo de ensino-aprendizagem, devem tomar consciência do papel de transformação que a leitura permite ao cidadão, e juntos descobrir o prazer que o ato de ler proporciona como também aventurar-se por todos os tipos de leitura e, inclusive as de maior transito social, pois, como já dizia o poeta João Cabral:
[...] um galo sozinho não tece uma manhã;
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lançe a outro; e.de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
Sem dúvida, esse pequeno trecho apresenta aos leitores que tecendo a manhã conota artesanato, solidariedade e diálogo, construindo uma metáfora que sublinha aspectos relevantes para uma reflexão sobre o papel da leitura numa sociedade democrática, como também que os bons leitores devem contagiar todas as pessoas em sua volta demonstrando o prazer que adquire quando se aventura no mundo da leitura.

Este blog foi criado com o objetivo de contribuir, com a metodologia para o trabalho com os objetos de ensino de Língua Portuguesa, partindo de atividades que envolvam o uso da língua, como produção e compreensão de textos orais e escritos em diferentes gêneros discursivos/ textuais,seguidas de atividades de reflexão sobre a língua e a linguagem a fim de aprimorar as possibilidades de uso.
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